Mistério

Ontem roubaram o carro do seu Valdir.

Era uma Belina branca com detalhes em ferrugem.

Seu Valdir a comprou na década de 70, e desde então, Nelsa, como era chamada, tem o acompanhado. Lá se vão 38 anos. Ela presenciou seu casamento, trouxe a filha recém nascida para casa, e estava prestes a vê-la casar.

A família poderia contar sua vida pelos momentos vividos junto a Nelsa, assim como toda a vizinhança. Afinal, quem poderia não se lembrar do seu ronco majestoso pela manhã? Era único.

Mas enfim, levaram a Nelsa.

Seu Valdir desconfia da molecada da rua de cima. A polícia diz que um rapaz fugido da prisão há uma semana atrás é o principal suspeito. Os vizinhos, mais paranóicos, apontam entre si um culpado.

Eu não sei quem foi o autor. Mas agradeço. Deus salve quem roubou aquela sucata. Pelo menos um dia na vida pude dormir até mais tarde. Nada de Nelsa roncando no meu ouvido.

Ivan

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2 comentários:

Jozieli disse...

Traços típicos do bom brasileiro - dar vida, tornar da família o material; a sucata que vira de estimação.

Gostei daqui, aconchega.
E vi que o senhor virou meu seguidor, o que o levou a isso?
E respondendo sua indagação, sim, já li o livro, há alguns anos. Tive uns espasmos recentemente sobre ele. Suponho que você, se não leu, conhece essa obra de Milan Kundera. Que legal quando você não escreve pro vácuo, gostei. Volte sempre :)

Jozieli disse...

Escrever de forma adulta, é escrever de que forma?